quinta-feira, abril 03, 2008

DAS CRIANCINHAS, É O REINO DOS CÉUS

Quem matou a menina Isabella? Quem é o monstro, que teve coragem para atirar a criança de uma altura de mais de vinte metros, para o abismo da morte? A resposta pode estar aprisionada no porão de alguma mente doentia. Alguém que ainda não superou os conceitos de domínio de território, de clã e poder. Alguém que...

Nas savanas africanas, ou em outras planícies e florestas, batalhas acontecem, periodicamente, para que a natureza eleja o macho dominante de certos grupos de animais. O rei do harém será mantido, ou após a luta sangrenta, que pode terminar em morte, surgirá um novo macho territorial.

Dessa prática participam várias espécies de felinos, carniceiros em geral, e também herbívoros. Os macacos babuínos travam batalhas horripilantes, pelo domínio do harém, pelo direito de perpetuar a espécie, de transmitir o gene às gerações futuras.

Contudo, é entre os leões, que a luta pelo domínio de território e do grupo é mais violenta. Conhecemos esses detalhes através de relatos, documentários, a nós trazidos pela modernidade tecnológica.

Antes, durante e, principalmente, depois da luta, muito mais está em jogo. As fêmeas e, talvez, até os filhotes, sabem que suas vidas também correm risco. Os filhotes, escondidos entre moitas de capim, aguardam, apavorados, o fim da contenda.

Se o macho dominante conseguir vencer o rival desafiante, em pouco tempo as atividades do grupo voltarão à normalidade. As fêmeas continuarão caçando, como sempre, para alimentar os filhotes e o macho, que, por conta de hierarquia, tem prioridade na hora do banquete de sangue. Até lamberão suas feridas, o processo terapêutico que dá bons resultados.

Mas, se o desafiante vencer a sangrenta batalha, que pode durar minutos ou horas, toda a ordem estabelecida será quebrada. Ao perdedor, mesmo sendo ele o garanhão das estepes, resta o consolo de fugir para bem longe, levanbdo na bagagem a dupla dor: a física, das feridas, e o desgosto de perder o reinado e ter que amargar a solidão. Parece que a notícia se espalha rapidamente, via internet leonina, e todos os demais grupos rivais ficam sabendo do triste currículo do derrotado. Infeliz destino. A partir de então, o leão ferido, geralmente velho, terá que caçar sozinho, para não morrer de fome. Tarefa essa, extremamente difícil, pois as caçadas são realizadas em grupo, sob a coordenação de uma das fêmeas.

E os filhotes, descendentes do macho vencido, todos serão executados pelo novo senhor da juba dominante. É uma tática facilmente compreensível. Primeiro, porque ele elimina a chance de uma vingança futura. Talvez, pelas características passadas de pai para filho, é possível que um descendente do derrotado tente se impor diante do novo rei, que desbancou seu pai. Mas, o principal motivo da matança, é liberar as fêmeas que, sem os filhotes para cuidar, entrarão mais rapidamente no cio. É nessa nova etapa do grupo, que o macho dominante fincará o mastro da bandeira de seu reinado.

Nem mesmo essa teoria do mundo animal, é capaz de explicar o comportamento da raça humana. Por que pai, mãe, padrasto, madrasta, assassinam seus filhos?

Que teoria poderá explicar a morte da menina Isabella Nardoni, 5 anos, que despencou, misteriosamente, do sexto andar de um prédio, na capital paulista, na noite de sábado, 29 de março. Se a versão da polícia está correta, o pai, o consultor jurídico Alexandre Alves Nardoni, 29 anos, e a madrasta da menina, esposa dele, a estudante Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, são os suspeitos pela morte da criança.

Porém, culpa mesmo só se admite após todo um rito processual, com acusação baseada em provas contundentes e amplo direito de defesa. Ambos são os principais suspeitos, tanto assim é que o juiz Maurício Fossen, do Segundo Tribunal do Júri do Tribunal de Justiça de São Paulo, decretou o pedido de prisão temporária do casal, acatando pedido feito pelo delegado Calixto Calil Filho. O policial, lotado no 9º. DP, adotou essa decisão, após ouvir o depoimento da mãe biológica da menina Isabella, Ana Carolina Cunha de Oliveira, e dos avós maternos. Nem todos os detalhes dos depoimentos foram revelados, mas, com certeza, algo de muito grave e chocante deve ter sido dito ao delegado.

Ana Carolina I, Anna Carolina II. Parece que Alexandre é o “grande” conquistador da espécie Ana Carolina. Já está na segunda edição.

Se o pai espancou (há vestígios de sangue e de violência no apartamento) e atirou a criança para o abismo mortal, porque agiu dessa forma? Ele não é um macho dominante de um território. Ele se impõe de outras maneiras, pelo prestígio, pelas posses, pelos bens, pelo patrimônio, pelo direito adquirido em forma contratual de ocupar aquele apartamento (território). Exerce domínio sobre a fêmea, a segunda da espécie Anna Carolina, que conquistou numa “batalha” de forma nenhuma sangrenta.

E, se fosse para estabelecer domínio inconsciente, não atacaria a filha, que nenhuma ameaça lhe poderia impor, principalmente porque carrega seu gene.

Se a culpa recair, de fato, sobre o pai, ou a madrasta da criança, talvez tenhamos que adicionar elementos químicos, álcool, drogas ilícitas, para explicar uma atitude tão extremada. No momento, tudo não passa de especulação.

Do homem misterioso, que Alexandre diz ter visto no apartamento, até agora, após várias buscas e investigações da perícia, nenhuma notícia. Nem mesmo uma descrição física, o pai da vítima foi capaz de oferecer à polícia.

E se foi a madrasta (malvada)? Ela, sim, Anna Carolina II, inconscientemente, poderia estar querendo tirar de seu “território” a descendente de outro clã, outro gene, herdeira do patrimônio do macho dominante, concorrente de suas crias, na divisão de espaço, alimentação (caça), mas principalmente carinho.

Admitamos que ela imaginasse, cega por qualquer sentimento confuso, que Alexandre reservava mais atenção e carinho à menina Isabella, do clã Ana Carolina I, do que a seus dois filhos. Uma fêmea também luta por território e poder. Pode ser bastante habilidosa na arte de mostrar as garras. As leoas caçam e mantém hierarquia dentro do bando.

Em algumas espécies do reino animal, inclusive entre os cães selvagens, somente a fêmea alfa pode cruzar com o macho, também alfa, e reproduzir. Às tias é reservado o direito e (principalmente) dever de auxiliar na criação da prole. Seria, a menina Isabella, filha de uma fêmea desbancada do bando, que não mais é a matriarca alfa, uma ameaça aos instintos animais de Anna Carolina II? Aos 24 anos de idade cronológica, que idade mental tem essa moça? Tem maturidade para conviver com a imagem e semelhança da outra, a Ana Carolina I?

Todos nós somos mamíferos, de certa forma territoriais, dominantes e agressivos. Somos animais biológicos e, ao que tudo indica, estamos, gradativamente, perdendo a harmonia ditada por regras, conceitos éticos, ensinamentos religiosos, que servem de freio aos instintos selvagens, muitos deles calcados no materialismo territorial.

Quem matou a menina Isabella? Quem é o monstro, que teve coragem para atirar a criança de uma altura de mais de vinte metros, para o abismo da morte? A resposta pode estar encavernada no subconsciente de alguma mente doentia. Alguém que ainda não superou os conceitos de domínio de território, de clã e poder.

Fosse, eu, um psicólogo de carteirinha, me arriscaria ainda mais, perambulando pelas sanavas, vales e montanhas da teorização. Por ora, prefiro fazer parte do batalhão de pessoas que continuam lutando por um mínimo de ética, dignidade e respeito à vida. E, principalmente, por justiça.

Para os que ainda guardam um pouquinho de fé e dignidade, recordo algumas poucas palavras do Mestre: “Vinde a mim as criancinhas, pois delas é o reino dos céus”. Tenham certeza, a menina Isabella está muito bem, em esplêndida companhia.

(Baby Espíndola)

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