segunda-feira, março 31, 2008

CASO MARIA VITÓRIA, DE GOIÂNIA

À SOMBRA DA CASA DOS HORRORES, SOBREVIVE O MEDO DA IMPUNIDADE

O Ministério Público denunciou os torturadores da menina Maria Vitória, de Goiânia. Os mais ingênuos passam, imediatamente, a acreditar no exercício formal da justiça, como um fato consumado. No entanto, porque conheço muito bem os labirintos do judiciário brasileiro, não tenho medo de adiantar o resultado: ninguém será punido com o rigor que o caso exige.

São milhares e milhares os conhecidos casos de impunidade. Mas, tratemos de um, que está em curso nas mesmas terras de Goiânia, onde Maria Vitória foi torturada. É o caso da seqüestradora de crianças, Vilma Martins, condenada a quinze anos de cadeia, que já está gozando dos benefícios do regime semi-aberto. E o pior: no dia 21 de março, a seqüestradora Vilma Martins foi filmada na maior festa, uma zueira, uma farra com muita cachaça, vinho e cerveja num pesque-pague. Êta vidão! Cumprir pena, nem pensar.

O caso Vilma Martins não é o primeiro e nem será o último. Da boca do povo: não tem justiça no Brasil. A população se comporta assim, pelos motivos muito bem conhecidos. Ficar botando panos quentes, é hipocrisia.

No caso da tortura da menina L., 12 anos, aqui chamada “Maria Vitória” e cinco casos anteriores, necessário se faz que seja desenvolvida uma investigação mais completa. Com tantas vítimas, com tantas denúncias, porque as “otoridades” de Goiânia não agiram antes. As cicatrizes, os ferimentos, as chagas das outras vítimas, torturadas antes de Maria Vitória, não foram suficientes para sensibilizar as autoridades. Claro que não! Afinal, eram meninas e adolescentes pobretonas. Que força poderia ter o sofrimento, o gemido dessas criaturas, diante da imponência de dona Sílvia Lima Calabresi, uma bem sucedida empresária, dona de loja, construtora de casas para a classe média alta, moradora de uma cobertura, boas relações, esposa de engenheiro, dois filhos estudantes de engenharia.

Mas, as meninas, suas vítimas gemiam na escuridão do cárcere privado, na área de serviço da elegante e suntuosa moradia. Quando denunciavam não eram ouvidas. As “otoridades” não lhes deram ouvidos. As investigações foram arquivadas por falta de provas. As vítimas, algumas hoje já adultas, ainda guardam as cicatrizes, suficientes para comprovar tortura através de exame de corpo de delito. Mas, há alguns anos, quando foram torturadas, os ferimentos não convenceram as “otoridades”.

A delegada Adriana Accorsi tem demonstrado vocação para investigar o caso, isso é verdade. Pois, que todas as instituições se juntem à delegada Adriana. Inclusive, investiguem quem são essas ilustres figuras do passado, que fizeram vistas grossas para as outras vítimas, que arquivaram investigações. O Brasil quer saber, se não houve favorecimento para a Sílvia chic-chic.

E que outros favores a loirosa concedia à alta sociedade, além de construir casas de luxo? Com quem ela trocava palavrões e insinuações que levam a crer que, em torno de sua vida, havia promiscuidade e devassidão. Na frente da menina que torturava, Sílvia dizia palavrão e fazia insinuações de mulher vulgar. Será que o que nós, eu e você, estamos pensando, faz sentido? Além da tortura, que outras atrocidades foram cometidas contra frágil criança? Com certeza, ela ainda tem muito para dizer. Tudo é possível. Investiguem, pois, tudo indica, até agora, as investigações estão apenas arranhando o problema.

Também o promotor Cássio de Sousa Lima fez a sua parte. Ofereceu denúncia, no último dia 28, na 7a. Vara Criminal de Goiânia, contra a empresária Silvia Calabresi Lima e a doméstica Vanice Maria Novais, por tortura, maus-tratos e cárcere privado. Marco Antônio Calabresi Lima e Thiago Calabresi Lima, pai e filho, foram denunciados por omissão à tortura. Joana D’arc da Silva, a mãe biológica, também foi denunciada, “por entregar a filha a um terceiro, mediante pagamento”.

Consta, no inquérito policial, que os denunciados, o engenheiro Marco Antônio, marido de Silvia, e o filho Thiago, “tinham pleno conhecimento da tortura e não tomaram nenhuma providência para fazer cessar a barbárie”. Inclusive, Thiago tentou enforcar a menina.Vanice chegou ao requinte de elaborar um diário de torturas.

Para comprovar meus argumentos, de que as “otoridades” sabiam dos casos de tortura e nada fizeram, o promotor Cássio anexou, ao relatório, as queixas de outras cinco vítimas da empresária Sílvia. Meninas, algumas hoje mulheres, que foram escravas da empresaria Sílvia, submetidas a maus-tratos, entre os anos de 2004 a 2005. Também elas sofreram os efeitos de surras, espancamento, trabalho forçado e ameaças de morte. Sofreram, choraram e gemeram, mas ninguém, à época, as socorreu.

Portanto, investiguem a fundo! Se é que elas denunciaram, se registraram queixa na polícia, se os casos foram parar na mesa de algum juiz, isso tudo tem que ser esclarecido. E se alguém foi negligente, omisso, tem que pagar pelos seus atos.

A menina Maria Vitória repete a mesma história, sem mudar uma vírgula. Ela conhece bem o script do sofrimento, por isso nunca erra a fala. Era uma clandestina no apartamento de cobertura, não freqüentava a escola, não saia de casa. Era a escrava da torturadora Sílvia, do marido omisso e dos filhos safados, isso há dois anos.

Desde os dez anos, Maria Vitória era a escrava da empresária Sílvia, 42 anos. A criança era submetida a um regime forçado de trabalho. A coitadinha só podia dormir quatro horas por noite. A agenda de tarefas está descrita num diário, apreendido pela polícia junto com outros objetos de tortura. Os relatos mostram que a menina cumpria tarefas domésticas até 1h40m e recomeçava o trabalho às 5h40m. As anotações foram feitas pela empregada doméstica Vanice, 26 anos, que supervisionava as tarefas. Ela anotava tudo. Por exemplo: "Dia 17 - Chamei L., às 05h41min; amarrei a luva às 05h45min". (Vanice era encarregada de amarrar a criança, com correntes, e ajudava Sílvia na sessão de tortura).

Os relatos da menina são chocantes, perturbadores. LRS, aqui chamada Maria Vitória, detalhou as agressões sofridas na casa de Silvia, a quem, inocentemente, chamava de "tia": Ela conta: "Desde o meu aniversário (1º de novembro) a tia Silvia passou a me deixar amarrada... Colocava sacolas de plástico na minha cabeça, para me sufocar... Batia com o martelo nos dedos dos meus pés... Apertava os dedos das minhas mãos nas portas... Enfiava tesoura no meu nariz... Puxava a minha língua com um alicate... Me queimava com um ferro de passar roupa... Me amarrava na escada da área de serviço... E ainda me amordaçava, passando pimenta nos meus olhos e na minha boca".

Tal mãe, tal filho. Até o Thiaguinho, que menino aplicado, que eficiente estudante de engenharia e debutante na casa dos horrores. Ele também, o depravado, tentou enforcar a menina. Tudo isso a pobre criança indefesa relatava ao doutor Marcos, marido de Sílvia, e à mãe adotiva dela, a idosa Maria de Lourdes. Essa já está meio gagá. Mas, o engenheiro Marcos, poderia tentar evitar as torturas. Se não queriam denunciar a torturadora, poderiam pelo menos fazer com que respeitasse a criança.

Muita atenção para esse capítulo da história da casa dos horrores... “A tia Silvia sempre falava muita bobeira sobre homens com as amigas em casa... Ela era muito doidona", disse a menina. Escute bem, a menina está chegando perto da minha argumentação. Tem muito mais nessa história ainda mal contada. "Um dia ela pegou um pênis de borracha e me mostrou. Ela sempre mostrava para as amigas dela", relatou durante a menina. Hum, tem marido que é cego! Será que o engenheiro Marcos perdeu a noção de cálculo?

Tem mais coisa. Não estão revelando tudo. Parece, tem orgia por trás das sessões de tortura. Escrevo de Florianópolis, de muito longe de Goiânia, mas assim mesmo questiono esse caso macabro, muito estranho. Escrevo, com a autoridade que os brasileiros revoltados me conferem, a mim e a outros jornalistas, que têm coragem para cobrar justiça. Justiça!

Os fatos são gravíssimos... A menina foi achada, graças a uma denúncia anônima, amarrada e amordaçada na cobertura de Silvia, num bairro nobre de Goiânia. Era forçada a fazer os serviços da casa: lavava, passava e fazia faxina. Quando não conseguia executar o trabalho, contou, era torturada. Pouco antes de ser libertada, fora amarrada porque não secou o banheiro.

Para fechar... sem lágrimas. Maria Vitória, que está em um abrigo, já recebeu o "presente de seus sonhos", uma bicicleta, a promessa que Sílvia nunca cumpriu. E um empresário prometeu bancar os estudos dela, até a faculdade. Nada mal para uma criança que, no ano passado foi reprovada por faltas.

Novamente a questão: as “otoridades” nunca questionaram: por que uma menina, em idade escolar, desapareceu da sala de aula. E a professora, que sabia que a menina morava numa cobertura, mas passava fome, fato que a levou a dar restos de sua comida para Maria Vitória. Por que não denunciou. Omissão é crime.

Tudo indica que a empresaria Sílvia e a empregada Vanice iam matar a menina, pois as torturas se tornavam a cada dia mais violentas, insuportáveis até para um adulto. E perigosas. Maria Vitória foi encontrada pendurada pelos bracinhos, o que estava fechando seu diafragma, e amordaçada, o que dificultava ainda mais a respiração.

Sílvia e a empregada Vanice foram transferidas da delegacia para um casa de custódia. Estão em celas individuais. No momento, a grande preocupação das “otoridades”, é proteger as torturadoras Sílvia e Vanice, de quem as outras 130 detentas, da Casa de Prisão Provisória, querem tirar os escalpos. As duas são abastecidas com comidinha quente todo dia. Mas a menina Maria Vitória chegou a passar até três dias sem comer.

Dizem alguns, as duas podem pegar até 24 anos de prisão. Estamos nós todos, os mortais brasileiros, torcendo que assim seja. No entanto, talvez, muito mais cedo do que imaginamos, as torturadores da casa dos horrores estejam na rua, igual a seqüestradora Vilma Martins. Bebendo e farreando. Afinal, Goiânia também é Brasil.

(Baby Espíndola)


COMENTÁRIO

Data: Wed, 9 Apr 2008 15:59:56 -0700 (PDT)
De:"Anônimo"
Para:babyespindola@yahoo.com.br
Assunto: [BABY ESPÍNDOLA REPÓRTER] CASO MARIA VIT ÓRIA, DE GOIÂNIA tem um comentário novo.
Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "CASO MARIA VITÓRIA, DE GOIÂNIA":

(...) Só lamento, porque tudo caminha para a impunição e o proveito financeiro ou promoção individual. É hora, e gostaria que efetivasse a justiça na sua integra, pois a ausência de atitudes de forma equivalente ou ate mesmo a inexistência de justiça tem feito e sempre fará com que as pessoas agridam aos menos favorecidas de forma gradativa, pois o NADA é o maior incentivo para a execução de atrocidades, torturas, violências... que acontecem todos os momentos. Cabe a cada um de nós, que zelamos pela integridade física e psíquica de nossas crianças ficarmos ainda mais atentos e contar com a proteção de DEUS, e com nossa constante vigília aos que amamos...



Postado por Anônimo no blog BABY ESPÍNDOLA REPÓRTER em 3:15 PM

Um comentário:

Anônimo disse...

penso que a PREVISÃO da justiça deveria ser enganosa, mas só lamento, tudo caminha para a impunição e o proveito financeiro ou promoção individual. É hora, e gostaria que efetivasse a justiça na sua integra, pois a ausencia de atitudes de forma equvalente ou ate mesmo a enexistencia de justiça tem feito e sempre fara com que as pessoas agridam aos menos favorecidas de forma gradativa, pois o NADA é o maior incentivo para a execução de atrocidades, torturas, violencias... que acontece todos os momentos. Cabe a cada um de nos, que zelamos pela integridade fisica e psiquica de nossas crianças ficarmos ainda mais atento e contar com a proteção de DEUS, e com nossa constante vigilia aos que amamos...