Os
políticos oportunistas tiram proveito do futebol. O Brasil de chuteiras dá
votos
Ao se manifestar sobre os trovões dos protestos, que
sacodem o Brasil e ecoam no mundo, Carlos Alberto, o Parreira, chutou uma
grande bobagem. Aos jornalistas, que babam jogadores, Parreira insistiu numa
teoria estapafúrdia. Afirmou, com ufanismo verde-amarelo, que “futebol e
política não se misturam”.
Ah, se misturam, sim. E muito. Na verdade, a política
está embutida em tudo. Quando você oferece um sagrado pãozinho ao seu filho, lá
está a desgraçada da política, sob a forma de impostos, política de produção e
armazenamento do trigo, regras para cultivo, ou medidas regulatórias de
importação.
Quando alguém presenteia uma criança, com uma bola de
futebol – chegamos ao ponto, Parreira –, está pagando impostos embutidos, que
tornam cada chute muito caro. Além disso, a empresa que produziu, a loja que
vendeu a bola, pagaram pesados impostos, e também arcaram com encargos sociais
que tornam a atividade mercadológica quase impraticável.
Então, veja, senhor Parreira. Até aqui, o roteiro cruza futebol com política, que podemos classificar como intromissão do Estado/Nação.
E, o senhor sabe muito bem, o quanto a política interfere
no futebol. Durante a era do Governo Militar – ah, o senhor, com certeza,
lembra muito bem! –, um presidente indicava jogadores para a Seleção Brasileira. A Wikipédia insinua que "o título (o tricampeonato) serviu de propaganda política, quando o país estava no auge da ditadura militar". Parreira era membro da comissão técnica.
O senhor Parreira também sabe muito bem o quanto os
políticos oportunistas tiram de proveito, a cada quatro anos, com os resultados
da Copa do Mundo. O Brasil de chuteiras dá votos. Por conveniência, a Copa Mundial
coincide com o calendário eleitoral, para presidente da República e outros
cargos eletivos. Muito conveniente, principalmente quando os canarinhos cantam
em campo.
Então, senhor Parreira, está satisfeito? Agora, acredita
que futebol e política se misturam? Se essa argumentação não foi suficiente
para convencê-lo, pretendo acrescentar outros detalhes, para reavivar sua
memória.
Conhece João Havelange? Ah, claro que conhece. Parreira foi
guru dele, a partir dos anos 70, na CBD (Confederação Brasileira de Desportos)
e, depois, na herdeira CBF, Havelange também opinava sobre um certo
distanciamento entre futebol e política. Mas, soube, como poucos, tirar proveito
da relação com os militares e com outros presidentes, que os sucederam. Um
ensinamento que Parreira aprendeu, como bom discípulo. Pois também soube tirar
proveito dos políticos, que gerenciam a política, que dita ordens para a CBF.
Pois muito bem, Parreira, Parreirinha, Parreirão, por
fim, vou lhe lembrar um hino de reação: “Caminhando e cantando e seguindo a
canção (...). Geraldo Vandré. Música proibida pela censura, no Governo Militar.
Pois é. Naqueles tempos, eu rodava Vandré, numa rádio. Era só para provocar os
órgãos de repressão. Também rodava canções campesinas do ativista político chileno,
Victor Jara. Também só para discordar das regras impostas. Eu combatia o
Governo Militar, no qual o senhor Parreira estava encostado.
Mas, os tempos mudaram. Hoje eu contesto atitudes do
governo da republiqueta do mensalão. E você, Parreira, continua coladinho na
CBF, no Governo Federal. É coordenador técnico da seleção. Mudaram os patrões,
uma estrela vermelha tomou o lugar das estrelas douradas dos generais, e
Parreira continua aproveitando todas as benesses, dessa mistura volátil e
explosiva de futebol e política.
Viu, Parreira. Futebol e política jogam juntos. Então,
deixa os jovens protestarem, contra as gastanças nos estádios, contra a
corrupção. E não atrapalha. Carrega os sacos de bolas, com a marca da Fifa, e vai
cantarolando esse refrão: "Quem sabe faz a hora / Não espera acontecer". E não diz bobagem, Parreira.
(Baby Espíndola)
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