sábado, setembro 27, 2008

DEZ POR CENTO DAS QUEDAS DE ENERGIA SÃO PROVOCADOS POR RESTOS DE PIPAS NOS FIOS

A direção da Celesc adverte: os cabos da rede de distribuição têm energia suficiente para matar uma criança.

Reportagem Especial / Baby Espíndola

Estatísticas indicam que mais de dez por cento dos acidentes, que resultam em queda de energia elétrica, são provocados por restos de pipa na fiação. Além dos prejuízos causados às comunidades, à indústria e ao comércio, que deixam, temporariamente, de produzir e vender, há o iminente risco de choque elétrico, que pode, inclusive, provocar a morte de quem manuseia a pipa.

A situação é mais grave, principalmente, em regiões onde as crianças cultivam a cultura de brincar com pipas. Uma brincadeira saudável, mas muito perigosa, se não forem adotadas as necessárias medidas de segurança.

Essa advertência foi feita pelo chefe da Agência Regional da Celesc, na Grande Florianópolis, Santa Catarina, engenheiro Gilberto dos Passos Aguiar, em entrevista à Rádio Cambirela / Jornal O Caranguejo. Simpatizante da brincadeira, que atrai centenas de crianças em toda a Região Metropolitana de Florianópolis, mas preocupado com os casos de queda de energia e riscos de acidentes (choques), Gilberto Aguiar alerta:

– Não queremos tirar o lazer das crianças, mas as pipas devem ser soltas longe da rede elétrica. – E explica o porquê: – Justamente porque a pipa, ao enrolar na rede, pode causar muitos problemas. Por exemplo, em dias com muita umidade, pode passar corrente de um ponto para outro, e fechar um curto circuito. Se isso ocorrer, toda a região, no entorno, ficará sem energia.



Gilberto Aguiar: “Soltar pipa, bem longe da rede de energia”



Fatos mais graves podem acontecer, alerta o engenheiro, que tem profundo conhecimento em energia e sobre os riscos do contato humano com ela. Segundo Gilberto Aguiar, por causa do curto circuito provocado pelos restos de pipa na fiação, pode acontecer o derretimento de um cabo, com sua conseqüente queda. E, o pior pode ocorrer. Por exemplo, “se alguém tiver contato com esse cabo, vai pagar com a vida, será um acidente fatal, com certeza”.

TEIA DE ARANHA ENERGIZADA

Os pais e os responsáveis, adultos mais experientes de uma maneira em geral, devem alertas as crianças, sobre os riscos que elas correm, ao brincar com pipas em áreas urbanas, onde a fiação, de tão intensa, mais parece uma teia de aranha energizada.

Deve-se ressaltar outro detalhe muito importante: “Se o cordão estiver úmido, a criança que está brincando com a pipa, com certeza, será atingida pela corrente elétrica. Principalmente, se estiver com os pés no chão úmido, sem calçados. Vai ser um acidente fatal”, adverte o engenheiro. (Acidentes dessa natureza já aconteceram).

Gilberto Aguiar explica que “para provocar a morte de uma pessoa, principalmente uma criança, basta um mínimo de corrente. Se a criança estiver sem calçado, num dia úmido, após uma chuva, é fatal. Os cabos da rede de distribuição têm energia bastante para matar uma criança”.

Acidentes dessa gravidade podem acontecer com a maior facilidade. Na temporada de férias, exatamente quando as crianças mais brincam com pipas, são comuns as trovoadas rápidas, chamadas justamente de “chuvas de verão”.

Por hipótese: uma criança está brincando com sua pipa e é atingida por uma chuva repentina, enquanto recolhe o cordão, que pode se enrolar em algum fio, principalmente, se empurrado pelo vento. Para não perder o brinquedo a criança insiste em recolhê-lo. O que poderá provocar o choque elétrico fatal.

Em outra situação, o cordão pode ser atingido pela umidade da chuva e, como o sol sempre retorna após a breve tempestade, numa nova fase da brincadeira (pois a criança se apressa em voltar ao que fazia antes), pode ocorrer o acidentes fatal.

Além do risco com a segurança de quem solta a pipa, os restos (papel, cordão, bambu, que é um excelente transmissor de energia), deixados na fiação, provocam prejuízos para a empresa (Celesc), que deixa de fornecer energia.

A comunidade fica sem energia, ocorrem danos a eletrodomésticos e outros aparelhos dependentes da rede de distribuição, empresas param de funcionar, o comércio é prejudicado, porque deixa, temporariamente, de vender.

Então, é importante que os pais, responsáveis, vizinhos, orientem as crianças para que brinquem com pipas bem longe da fiação de energia elétrica, justamente, porque, além de ser muito perigoso, essa brincadeira, aparentemente, inofensiva, provoca acidentes e queda de energia.

Uma criança, que horas antes deixou restos de uma pipa na viação, ela própria pode ser prejudicada. Se o “lixo”, preso aos fios, provocar queda de energia, a criança fica sem poder assistir à televisão, não pode brincar com vídeo-game e não poderá desfrutar de outros benefícios proporcionados pela energia elétrica.

CEROL, UMA ARMA LETAL

O cerol é outro inconveniente que deve ser evitado. Os pais precisam fiscalizar para descobrir que tipo de cordão está agregado à pipa. Atingidas pelo cerol do cordão das pipas, muitas pessoas já morreram degoladas, uma morte lenta, através de um processo hemorrágico. Outras tiveram braços amputados e outros ferimentos, como cortes no rosto e em outras partes do corpo. As vítimas mais constantes são os motoqueiros e ciclistas.




Vítima do cerol, que sobreviveu ao acidente, ficou com graves seqüelas

Utilizar ou vender pipa com cerol é crime previsto em lei. Algumas lojas da Região Metropolitana de Florianópolis vendem esse produto ilegal. Mas, como não há fiscalização, ninguém é punido.

Em várias cidades, já ocorreram condenações pelo uso de cerol em pipas e papagaios, que podem provocar graves acidentes e até a morte.

O cerol é uma mistura criminosa de cola de madeira com vidro moído. Não há estatísticas confiáveis, mas sabe-se que muitas pessoas, ciclistas e motoqueiros, atingidos pelos cordões de pipas e papagaios com cerol, perderam suas vidas ou ficaram com graves seqüelas.

SONHOS DE PAPEL: PROJETO SOCIAL ENTRE A TERRA E O CÉU

Devido à gravidade do problema, a direção da Rádio Cambirela está criando “Sonhos de Papel – Um projeto social entre a terra e o céu”, com o objetivo de orientar as crianças, adolescentes e até adultos, sobre os riscos da inocente brincadeira. Soltar pipas e papagaios entre a fiação de distribuição de energia é muito perigoso e pode provocar até a morte.

Sonhos de Papel visa a organização e a disciplina de uma brincadeira tradicional que, se realizada com segurança, é muito agradável. Como não basta orientar e até impedir a brincadeira, a Rádio Cambirela vai realizar um evento a cada mês, sempre numa ampla área de lazer, longe dos fios de energia.

A primeira edição do projeto vai acontecer no próximo dia 12 de outubro, na área de lazer da Cidade Universitária Pedra Branca, próximo ao lago, em Palhoça, cidade da Região Metropolitana de Florianópolis. Por ser o “Dia das Crianças”, a produção do evento espera atrair um grande público.

A Rádio Cambirela, que conta com o apoio da AMO – Associação dos Moradores e Proprietários de Terrenos da Cidade Universitária Pedra Branca – e da Agência Regional da Celesc, vai transmitir o evento, ao vivo, das 9 às 12 horas. Além de dezenas de pipas alçadas aos céus, outras atividades serão desenvolvidas, para divertir as crianças, adolescentes e adultos.

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