quinta-feira, janeiro 31, 2008

O presidente da moto serra. E da coceira

A Ministra do Meio Ambiente vem abrindo, ao mundo, as porteiras da Amazônia, para escancarar as feridas abertas na floresta, pelo desmatamento irracional. Marina Silva, ecologista de carteirinha, considerada, por muitos, uma radical do verde, vem denunciando o que chama de “processo irresponsável de destruição da floresta”, com base em dados do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Do outro lado da trincheira do bate-boca cinza-esverdeado, está o presidente Lula da Silva. Em suas andanças pelas ruas, o presidente, que nunca é visto no gabinete de trabalho, no Planalto, tenta, desesperadamente, minimizar a crise. Em sua falácia irresponsável, o que lhe é peculiar, o quase-sempre-sindicalista chegou ao absurdo estratosférico de comparar o desmatamento a “uma coceira”.

Comparação extremamente infeliz! Como se a derrubada de árvores, que precisaram de décadas, algumas mais de um século, para se desenvolver, fosse um fato a ser resolvido com a ponta dos dedos, num toque mágico e reconfortante. Há que se advertir, ao sr. presidente, sobre os riscos de uma coceira. Dependendo do lugar, o dedo pode terminar com mau cheiro. Mas, nos comportemos, não sejamos dotados de futilidades ligadas às coceiras. Principalmente, porque, a maior floresta tropical do mundo, deve ser tratada como um santuário, que deve ser venerado, respeitado e preservado. Não se trata de uma relés coceira. São feridas, sim, na carne do verde.

O problema, para o governo, é mais grave do que se pode imaginar. Ocorre que Lula da Silva Castro-Chávez-Morales vinha, ostensivamente, alardeando sua posição de guardião, paladino da floresta. No ano passado, discursou, pomposamente, na ONU, arrazoado com números, que não se sabe onde ele foi buscar. Números milagrosos, que apontavam para uma considerável redução no nível de desmatamento no Brasil. Foi aplaudido, é claro, por gente de terno preto e gravata de grife, que bate palmas burocraticamente, e que só pensa no lucro fácil e na exploração de qualquer coisa, inclusive de povos.

Porém, imediatamente, a imprensa internacional reagiu, alertando para a degradação ambiental da Floresta Amazônica. Mas, o alerta não chegou a repercutir no Brasil, onde Lula da Silva é blindado contra tudo e todos. Mas, ao que tudo indica, a história está mudando: as páginas verdes do discurso presidencial estão adquirindo uma tonalidade acinzentada. O problema, é que, no caso do meio ambiente, a redoma de vidro se estilhaçou e expôs à Nação e ao mundo, não um intransigente defensor da floresta, mas um presidente relapso, que fala sem usar a razão, sem se utilizar de números confiáveis. Na verdade, hoje, a opinião pública internacional vê Lula da Silva não como um general-guardião da floresta, mas, sim, como o presidente da moto serra. Mmuito mais preocupado em tratar de coceiras. Até porque, os investimentos financeiros, financiamentos estatais, também incentivam e aceleram o desmatamento. Após a constatação de que a blindagem, que desde o primeiro mandato protege o presidente de todos os escândalos, inclusive o mensalão, estrategistas do Palácio do Planalto saíram em socorro do estapafúrdio, escalafobético, Lula-lá. Tentam apagar um incêndio. Se esforçam para impedir que a nova imagem, de um presidente ligado à moto serra, se espalhe mundo a fora, principalmente nos países desenvolvidos. De tudo fazem, os guardiões do Planalto, para preservar a imagem de defensor do verde, que muito bem foi colada em Lula.

O discurso de protetor do verde não se transformou em realidade, porque, infelizmente, no Brasil, leis são criadas para a retórica de seus mandatários, que não investem, de fato, na preservação. E, de quem é a culpa, se leis não são cumpridas? Quem é o chefe da Nação? Não pode ficar dizendo que não sabia de nada. Há que se admitir que, sem fiscalização eficiente, de nada servem baús recheados de leis, decretos e normas.

Retirem, finalmente, a blindagem, e os brasileiros e o mundo verão que, em quase tudo em que se envolve, Lula da Silva age de maneira leviana, frívola e irresponsável. Assim, aconteceu ao tratar da questão Floresta Amazônica, principalmente quando discursou na ONU, com o peito inflado, soberbo, como o uirapuru, a excêntrica ave da mata. O presidente tentou, de forma oportunista, se utilizar de um certo terrorismo do aquecimento global, para conquistar dividendos eleitoreiros, na interminável caçada à cadeira de estadista. Não parou para pensar que não se pode empurrar para debaixo do tapete um problema tão imenso, em todos os sentidos, com sete mil quilômetros quadrados. O INPE denuncia: “A Amazônia perdeu cerca de sete mil km2 de floresta, entre agosto e dezembro de 2007”. A estatística dantesca se refere a um período curto, de apenas quatro meses. Justamente, nesse período de tempo, Lula da Silva discursou na ONU.
E agora, o presidente da moto serra reaparece num cenário hostil, vestindo cinza, com os olhos em chamas, para, inescrupulosamente, comparar o “desmatamento irresponsável”, a destruição da mata, a uma simples coceira. Desmatamento irresponsável, são palavras de sua amiga ministra, sr. presidente.

(Texto: Baby Espíndola)