segunda-feira, janeiro 14, 2008

Editorial

O mistério da omissão presidencial

(14 / 01 / 08)

Recentemente, convivi, bem de perto, com um grupo de angolanos, no balneário Ponta do Papagaio, um paraíso que Palhoça, em Santa Catarina, oferece ao mundo. Constatei aquilo que já sabia. Jovens e adultos de alguns países conhecem, talvez, até mais, dos importantes temas, recursos naturais e problemas do Brasil, que uma grande maioria dos brasileiros.

Em Angola, a terra do poeta Agostinho Neto, que lutou pela independência e governou o país, a população, que fala o português como língua oficial, se interessa muito pelo gigante Brasil, por suas potencialidades inigualáveis, inclusive assiste a muitos programas de televisão gerados no Brasil, via tv por assinatura e internet. Talvez por isso, não compreendam muito bem uma faceta do governo Lula da Silva, segundo confessaram. A tv passa a eles a imagem de um super-Lula, blindado, sempre à frente dos acertos do governo, das conquistas da economia, mas jamais ligado aos fatos mais graves, das áreas da saúde – um caos! –, da segurança – uma tragédia! –, dos transportes – um absurdo! –, num labirinto de rodovias esburacadas, ferrovias sucateadas, hidrovias abandonadas e tráfego aéreo em sobressalto, o que pode nos proporcionar uma surpresa desagradável a qualquer momento.

Os angolanos, a exemplo de outros povos, amam o Brasil, confessaram. Mas não entendem, como o governo da República demora tanto a responde em situação de crise. No caso da tragédia com o avião da Gol, no Mato Grosso, que ceifou as vidas de 154 pessoas, ainda não foi esclarecido o mistério do tal “buraco negro”, onde não há sinal de radar, e por onde, sabe-se, entram os aviões carregados de armas e cocaína. Que coincidência! Mais grave, ainda, foi a reação do governo, no caso do acidente da Tam. O Brasil chorava os 199 mortos, mas o presidente assumia um silêncio comprometedor. Lula da Silva veio a público, somente 72 horas depois, para ler um texto no tp da televisão, numa vulgar interpretação do presidente chocado e triste. Não convenceu. Agiu como estrategista de última hora.

Nos ataques do crime organizado a São Paulo e Rio de Janeiro, também o governo foi omisso, e os angolanos, admitiram, ficaram chocados com a falta de uma posição oficial. Enquanto bandidos incendiavam as cidades governadas pelo PSDB e o antigo PFL (DEM), o governo da república fazia silêncio. Os criminosos, via telefonia celular, deram mais declarações que o presidente Lula da Silva. Inclusive anunciaram – e a polícia gravou a conversa – a intenção de “matar essa turma do PSDB e do PFL”.

Na República de Angola, basta uma série de assaltos numa mesma região, para provocar uma reação do poder central, na figura do presidente José Eduardo dos Santos, disseram os angolanos, que, por delicadeza, evitaram aprofundar comentários e comparações. Então, fui buscar informações, através de fontes confiáveis, para corroborar aquilo que os turistas angolanos me revelaram. No país africano, o presidente assume publicamente a responsabilidade de resolver aquele problema específico.

Foi assim, na Colômbia de décadas passadas, quando o país era dominado pelos narcotraficantes. O presidente de então, assumiu pessoalmente o comando de operações, inclusive aquela em que o exército colombiano, contando com a colaboração da polícia norte-americana, acabou com a farra de Pablo Escobar. Num momento de crise, a figura do chefe da nação estava à frente da operação. Por isso, hoje você pode andar, à noite, pelas ruas de Bogotá, e até Medellín, símbolo maior do cartel das drogas. Tanto é assim, que, recentemente, autoridades brasileiras, inclusive o Secretário de Segurança de Santa Catarina, Ronaldo Benedet, visitaram a Colômbia, na intenção de importar o modelo de segurança, lá implantado.

Ainda sobre as Farc... Se o atual presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, decidir atacar definitivamente as Farc, para amenizar os efeitos de seqüestros e do narcotráfico, certamente vai ter o apoio total dos colombianos. É uma decisão política, que precisa ser adotada. Meios tecnológicos existem, para localizar os guerrilheiros na floresta. As clareiras podem ser detectadas via satélite, on-line. Se qualquer garoto, com acesso à internet, é capaz de localizar a própria casa, a parir de um programa da Nasa, o Google Earth, porque essa suposta dificuldade em localizar os narco-guerrilheiros. É só uma questão de boa vontade. Se dizimadas as Farc, a entrada de armas e drogas no Brasil seria reduzida, consideravelmente.

Sabemos nós, é assim no mundo inteiro. Em qualquer momento de crise, o chefe da nação aparece em público para dar explicações, satisfação ao povo, para anunciar planos emergenciais e demonstrar solidariedade com a população. Quando o chefe da nação não assume seu posto de líder, é cobrado pela opinião pública.

No caso do Furacão Katrina, categoria “5”, que causou prejuízos de mais de dois bilhões de dólares, além de mais de mil mortes, principalmente em Nova Orleães, Estados Unidos, em 2005, a omissão presidencial custou caro. George W. Bush demorou a se manifestar, tentou se proteger na muralha da omissão, e foi duramente penalizado pela opinião pública. A popularidade do presidente americano caiu a níveis insustentáveis. E os números nunca mais foram positivos.

Já Lula da Silva (Cháves Morales), na figura do presidente omisso, nunca perde em popularidade. Ou realmente é blindado ao extremo, ou as pesquisas são realizadas só entre os clientes do bolsa-voto.

Nas muitas conversas noite a dentro, expliquei aos angolanos, que a tática PT/Planalto recomenda que o presidente nunca se exponha em situações desgastantes, que só apareça para o público, para gargantear conquistas da economia brasileira, que anda a reboque do boom mundial.

No caso da criminalidade, relatei uma experiência particular. Contratei um pedreiro, que falava mal do Lula candidato à reeleição, o dia todo. Porém, num dia em que fui até sua casa, num bairro favelizado de Florianópolis, região continental, para pegar uma caixa de ferramentas, fiquei surpreso ao ver uma foto enorme do presidente-candidato, na fachada da moradia, além de uma foto menor e uma estrela do PT no muro.

No retorno, ao sair da favela, depois de passar por pelo menos meia dúzia de olheiros do tráfico, todos fortemente armados, o pedreiro, voluntariamente, me explicou: “Aquela propaganda de campanha, é o meu salvo-conduto, é a proteção para minha família”. E revelou que, nas madrugadas, depois de fornecer drogas para os proprietários de carrões, os filhos da classe média alta e dos ricos, os traficantes davam rajadas de metralhadoras e de fuzis para o alto, e gritavam, sem parar: “Viva o cumpanheiro Lula. Quem votar no chuchu (numa referência a Geraldo Alckmin, leva bala no traseiro”.

Moral da história: os traficantes e seus clientes também votam. Por conseqüência da origem pobre, alguns consideram o presidente “um dos nossos, um pobre, um operário”. É onde vigora a tática do populismo, do deixa como está. Assim, ganha corpo a teoria do direito humanitário, com um presidente simpático, que tira dos ricos para dar aos pobres, que faz declarações polêmicas, alegando que ninguém pode fazer nada contra “esses meninos”, considerados vítimas da sociedade. Que não se pode fazer mudanças na legislação penal, sob forte emoção. Essas afirmações, Lula da Silva, o ex-pobre, pronunciou, na televisão, com os brasileiros em estado de choque, porque alguns adolescentes arrastaram, dias antes, uma criança até a morte, com um carro roubado, no subúrbio do Rio de Janeiro. Sem dúvida, foi essa a declaração mais inconsistente do presidente da República. O besteirol destaque de seu arsenal de gafes.