sexta-feira, maio 04, 2012

SECRETÁRIO DE SEGURANÇA NÃO RECEBE VEREADORES DE PALHOÇA

Versão oficial da Secretaria de Segurança de Santa Catarina afirma que não havia uma audiência agendada. Alguns vereadores confirmam que a reunião fora marcada, há cerca de um mês. E que o encontro foi desmarcado, mas os vereadores não foram avisados.

Este blog está voltando ao espinhoso assunto, que balançou as estruturas da Secretaria de Segurança, porque o desrespeito com Palhoça - a cidade mais violenta de SC - continua. E setores do Governo do Estado continuam fazendo pressão e causando constrangimentos a quem reivindica mais segurança para o município.

Jornalista Luiz Carlos "Baby" Espíndola - MT / DRT / SC 798


A FOTO MALDITA

Secretário César Grubba (no lado direito do carro), conversa com vereadores de Palhoça. Ronaldo Freire (à esquerda), acompanha o diálogo, no acesso à garagem da SSP

Foto: Baby Espíndola Repórter

Dez dos onze vereadores de Palhoça compareceram, rigorosamente no horário supostamente marcado, 15 horas, de 24 de abril, dia da emancipação da cidade, para uma audiência, com o Secretário de Segurança Pública, César Augusto Grubba.

Mas, não foram recebidos, para a reunião – segundo alguns vereadores – agendada, há quase um mês. Não passaram da porta do secretário, que deveria oferecer mais segurança ao povo catarinense. Mas que está permitindo que as cidades mergulhem numa tenebrosa onda de violência, consequência da incompetência e negligência.

A versão oficial

Através de assessores, muitos telefonemas e até recados via e-mail, o Secretário César Grubba, explicou que, não recebeu os vereadores de Palhoça, porque precisava comparecer ao velório e sepultamento de um amigo ilustre. Mas, fez questão de ressaltar – ainda, através da assessoria, principalmente, tendo como porta-voz, o Secretário de Imprensa, João Carlos Mendonça Santos – que, na agenda oficial, no dia 24 de abril, não havia nenhum horário reservado aos parlamentares palhocenses. Mendonça relatou, inclusive, que César Grubba sugeriu que os vereadores se reunissem com o secretário adjunto, o que não aconteceu.

César Grubba, que é Promotor de Justiça, tinha um compromisso social, o velório do desembargador e presidente do TER/SC, Solon d’Eça Neves. Mas poderia receber os vereadores, por alguns minutos, marcando outra audiência, para data posterior, ou encaminhando o grupo de Palhoça, para o secretário adjunto ou para assessores. Faltou jogo de cintura. Habilidade política.

“Reunião” na garagem

O problema é que os vereadores nem mesmo chegaram perto do Secretário César Grubba. Não passaram da saleta de espera. O único encontro, com o Secretário de Segurança Pública, aconteceu na rampa da garagem do prédio, no centro de Florianópolis.

A impressão que ficou (inclusive, para quem passava, na calçada, e ouviu o breve bate boca) é que o Secretário César Grubba fugiu da reunião com os vereadores. E que foi flagrado, por eles, em rota de fuga, afoito e apressado, na porta da garagem do prédio da SSP.

Anti-Pitanta

Veterano em mandados (oito) e em permanência na Câmara (36 anos, no final de 2012), Nirdo Artur Luz (Pitanta – DEM) foi o vereador que mais discutiu com o Secretário Grubba, durante a “reunião”, na porta da garagem.

Talvez, por isso, César Grubba tenha declarado, em desabafo com aliados, que não deseja a presença de Pitanta, quando acontecer a reunião com os vereadores. Se acontecer!

Com certeza, quando a poeira baixar, César Grubba vai mudar de ideia. Não deverá fechar as portas da SSP a um membro do legislativo, que representa a população. Há que prevalecer o bom senso.

Até se entende o motivo da declaração radical. Afinal, o titular da Segurança Pública tem mais que motivos para andar nervoso. A SSP é alvo de graves denúncias de corrupção. Isso estressa qualquer um.

Cidade violenta

Recentemente, a mídia eletrônica e impressa, guiada por pesquisas, apontou Palhoça como a cidade mais violenta de Santa Catarina, a que mais registra homicídios. Bela por natureza, mas muito violenta. Também, por culpa de autoridades negligentes e incompetentes, como o secretário César Grubba. Dados oficiais indicam que até o final da primeira quinzena de março, Palhoça contabilizava quatorze assassinatos.

Inclusive, essa liderança no ranking da violência, convenceu o Exército Brasileiro a escolher a cidade, como cobaia para treinamento de soldados, que serão enviados ao caótico Haiti.

Líder nas estatísticas

Em termos de violência, Palhoça desponta, em todas as estatísticas, de forma muito negativa. Além dos assassinatos, todos os dias, são registrados, em média, 70 boletins de ocorrência. Os crimes mais comuns, narrados pelas vítimas, são assaltos à mão armada, em residências e casas comerciais. São crimes motivados pelo tráfico de entorpecentes.

A cidade, com quase 150 mil habitantes (137.344, segundo o Censo IBGE, de 2010), conta com os precários serviços de uma Delegacia de Comarca, na área central, e uma subdelegacia, no Balneário Pinheira, que não funciona.

Delegacia solitária

Para tentar resolver os crimes, operar todo o serviço burocrático, a delegacia tem um quadro de policiais muito abaixo do desejado. Ignorando o crescimento da cidade, registrado nas últimas três décadas, a estrutura de investigação e policiamento da cidade é a mesma há 30 anos. São cinco investigadores, para tentar desvendar a autoria e as circunstâncias que envolvem os crimes.

Tubarão, por exemplo, que tem menos de cem mil habitantes, possui cinco delegacias. Palhoça possui uma só. Só uma, esquartejada, pela falta de estrutura operacional.

Delegacia da Mulher

Para amenizar a violência, que invadiu Palhoça, a SSP e o Governo do Estado estão planejando a criação da Delegacia da Mulher. Um eufemismo, que não resolverá o problema principal da violência. A Delegacia da Mulher vai atender parte da sociedade, podendo, até, amenizar o problema. Mas, não é a solução, por que a violência atinge a todos, independentemente de sexo.

Palhoça precisa, sim, de mais delegacias (três, pelomenos), um prédio adequado para o BPM, e um significativo aumento nos efetivos da Polícia Militar e Polícia Civil.

Policiais guerreiros

O efetivo da Polícia Militar também não cresceu na mesma proporção do inchaço populacional. O Batalhão de Polícia Militar, que só existe de nome, tem apenas 170 policiais, para Palhoça e outras cidades da comarca.

Depois de toda essa confusão, envolvendo o Secretário de Segurança, o comando da Polícia Militar destinou quatro policiais militares para Palhoça. Uma gotinha d'água no oceano da violência. Porque, somente neste ano, 43 policiais militares, ligados ao BPM de Palhoça, se aposentaram. 

Porém, apesar dessa magreza no número de policiais civis e militares, o índice de resolução dos crimes está bem acima da média estadual.

Fica aqui, uma constatação: com tantas dificuldades, os policiais de Palhoça são verdadeiros guerreiros. Mesmo quando o comando político-administrativo é muito ruim.

Pressão e ameaça

O mais grave de tudo, é que, quando ficaram evidentes a negligência e a incompetência de setores do Governo do Estado, na questão segurança, os atingidos partiram para o ataque. Ameaçaram, por exemplo, exonerar Ronaldo Freire, chefe de gabinete da Secretaria de Planejamento Sustentável.

Freire, que é um amigo de Palhoça, acompanhava os vereadores, durante a tentativa de reunião com o Secretário de Segurança. E aparecia na foto publicada no blog Baby Espíndola Repórter – www.babyespindola.blogspot.com.

Para não prejudicar Ronaldo Freire, a matéria e a foto foram deletadas do blog. Estamos voltando ao assunto, com a versão oficial, porque defendemos uma imprensa livre, que não pode se submeter às pressões dos poderosos.

Inclusive, eu, como jornalista, também sofri relativa pressão, em Palhoça, onde trabalho. Mas, não cedi, tanto é que estou voltando a abordar o assunto.

O blog e o fato

Sem a menor intenção, o blog Baby Espíndola Repórter sacudiu as estruturas da Secretaria de Segurança Pública, com repercussão em outros redutos palacianos.

O encontro do Secretário César Grubba, com vereadores de Palhoça, na rampa da garagem do prédio, foi o assunto da semana. A divulgação do fato, pelo blog, obrigou as autoridades a olharem, com um pouquinho mais de atenção, para Palhoça.



Vereadores de Palhoça não foram recebidos, pelo secretário César Grubba, para a reunião agendada. O único encontro, entre as autoridades, aconteceu na porta da garagem do prédio da SSP, em Florianópolis

Foto: Baby Espíndola Repórter





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